Guardiola não é um técnico copeiro?

Ganhar o campeonato nacional, em alguns contextos, pode ser o ápice para um clube. A título de exemplo, o Guarani já provou esse sabor no campeonato Brasileiro e mais recentemente, o Leicester City também conseguiu tal feito na Premier League (a liga nacional da Inglaterra), uma das mais disputadas e qualificadas ligas nacionais de futebol do mundo.

E já que estamos falando de Premier League, não podemos deixar de citar um dos maiores técnicos da era moderna do futebol, líder de um clube que revolucionou sua história através de investimentos financeiros, o tantas vezes vitorioso Pep Guardiola. O treinador encantou o mundo com o seu Barcelona de Messi, Xavi e Iniesta entre 2008 e 2012, período em que conquistou a UEFA Champions League duas vezes, a Liga Espanhola três vezes e o Mundial de Clubes da FIFA por duas vezes, mas sua principal conquista foi jogar o futebol mais bonito e envolvente do mundo, sendo marcado como o treinador de uma equipe imbatível à época.

O estilo de jogo nomeado como “tiki-taka”, com envolvente toque de bola, pressão no adversário para recuperar a bola quando fora de seu domínio, o que conferia esmagadora posse à equipe do treinador. Por vezes, Pep declarou que a seleção holandesa do carrossel da década de 1970 e o Brasil de 1982 foram equipes que o tocaram e o inspiraram, curiosamente equipes que encararam o mundo, mas falharam em decisões de copas.

Com esse contexto, passou o tempo, Guardiola se consolidou como treinador respeitado e vitorioso, saindo posteriormente do Barcelona para o Bayern de Munique, quando começou aparecer o sintoma que deu origem a essa crônica: seria Guardiola um técnico de pontos corridos? No Bayern, o treinador chegou em 2013 e conquistou três vezes a Liga Alemã, mas nada de UEFA Champions League, embora cercado de expectativas.
Do outro lado, o Manchester City já tinha matado a sede de reconquistar a liga em 2012 e repetiu a dose em 2014. No entanto, a glória máxima desejada agora passava a ser a conquista continental. Eis que em 2016 os caminhos de City e Pep se cruzam, e o treinador já conseguiu conquistar a Premier League na temporada 2017-18. Após muito investimento em jogadores, em 2019 o clube briga bravamente para defender o título contra o Liverpool em campeonato que, hoje, ainda está em andamento, mas vamos falar de copas de novo.

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Guardiola, logo de cara, conseguiu mudar a cara do Manchester City, mas não vingou na principal competição do mundo. (Foto: Getty Images). 

A primeira decepção vem quando o rico e estrelado City é eliminado apenas nas oitavas de final pela equipe do Mônaco. Já com o vistoso futebol de costume, o City de Guardiola parece amarelar, como se diz no jargão da bola, e deixa a vaga escapar apesar do favoritismo. Sem questionar a permanência do treinador, o City se prepara e se fortalece na temporada 2017/18, voa baixo na Premier League, mas pela Champions League encontra a forte equipe do Liverpool, comandada pelo craque egípcio, o surpreendente Salah. Apesar da boa fase da equipe adversária, chama a atenção a forma como o City é engolido. A luz amarela das copas aparece de novo, pois o time azul pareceu ser totalmente anulado e levar um nó do Liverpool do experiente treinador alemão, Jurgen Klopp.

Dessa vez fica um trauma, mas a já citada conquista da liga em 2017/18 com recorde de pontuação serve como consolação, então vamos a 2019. O City chega às quartas de final da Champions, após passar muito facilmente pelo Schalke 04 e se prepara para enfrentar a chata equipe do Tottenham. Ainda assim, a maioria aponta o time de Manchester como detentor de melhor elenco e favorito à vaga na semifinal. Já no primeiro jogo do confronto, o City de Guardiola é travado e perde por 1×0 na casa do adversário. No jogo de volta, em casa, o City abre o placar, mas toma a virada ainda nos 10 minutos iniciais de jogo. Consegue abrir 4×2 no segundo tempo, mas toma o terceiro gol e, num balde de água gelada, vê seu quinto gol, o da classificação, ser anulado nos últimos minutos da partida. A expressão de Guardiola à beira do campo diz tudo: ele sabe que será cobrado e questionado.

Na minha humilde opinião, Pep Guardiola é um dos melhores de todos os tempos, e já venceu nas copas nacionais, mas especialmente os últimos minutos dessa partida contra o Tottenham, mostram que ele tem de se reciclar em determinados momentos que diferenciam as copas dos outros formatos de competição. O City parecia automatizado no toque de bola característico, mas é preciso saber que para vencer copas, tem de haver variação de jogo, é preciso jogar como time pequeno às vezes, como quando o time detinha os 4×2 que o classificaria, ou imprimir uma eletricidade acima do normal e alçar bolas na área para abafar o oponente, o que o City pouco fez quando a partida estava no 4×3 e o time precisava de um gol. Claro que o acaso existe e que a anulação do quinto gol pelo árbitro com assistência dos árbitros de vídeo foi o tipo detalhe e reviravolta que nos faz amar o futebol, mas o City precisa da Champions e o Guardiola também e não dá pra contar com um gol no último minuto em posição de impedimento. Era preciso ter feito mais. Vejamos como ambos reagirão e torçamos para que o grande treinador passe a ser também um estrategista copeiro.

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